Um estudo recente revelou que as plantas absorvem microplásticos e nanoplásticos diretamente do ar, com as partículas posteriormente entrando na cadeia alimentar através de herbívoros e das culturas consumidas por humanos.
Microplásticos são definidos como partículas de plástico com até 5 milímetros de diâmetro, enquanto os nanoplásticos são ainda menores, com menos de 1.000 nanômetros.
O estudo, publicado na revista Nature, demonstrou que as partículas plásticas entram nas folhas das plantas por várias vias, incluindo estruturas superficiais como os estômatos e a cutícula.
A pesquisa foi conduzida por cientistas da Universidade de Nankai (China), Universidade de Massachusetts Amherst (EUA), Academia Chinesa de Ciências (Centro de Pesquisa Ecoambiental), Universidade de Northeastern (EUA) e Academia de Agricultura e Ciências Florestais de Pequim (China).
Os estômatos são pequenos poros formados por células especializadas, enquanto a cutícula é uma membrana protetora coberta por cera, o que torna as folhas especialmente suscetíveis à absorção de microplásticos.
“Uma vez dentro da folha, os microplásticos se movem por espaços entre as células da planta e podem acumular-se dentro de estruturas diminutas chamadas tricomas, que ficam na superfície das folhas”, afirmou um artigo que explica os detalhes da pesquisa.

O estudo também revelou que os microplásticos podem se deslocar pelos sistemas de transporte de água e nutrientes da planta, atingindo outros tecidos. No entanto, os tricomas atuam como “depósitos”, retendo as partículas externas e limitando o transporte de plásticos das folhas para as raízes.
“Considerando que as folhas são uma parte fundamental da cadeia alimentar, as partículas de microplástico que se acumulam nelas podem facilmente passar para herbívoros e plantas que, eventualmente, são consumidas por humanos”, destacou o artigo.
A pesquisa também mostrou que essa absorção ocorre de forma ampla em ambientes externos. A concentração de partículas plásticas nos tecidos das plantas foi correlacionada com a concentração de plásticos no ar ao redor.
Os pesquisadores relataram que os níveis de microplásticos – especificamente polietileno tereftalato e poliestireno – eram de 10 a 100 vezes mais altos em vegetais cultivados ao ar livre do que em estufas. Plantas com períodos de crescimento mais longos e folhas externas mais velhas apresentaram concentrações mais altas do que as mais jovens ou as folhas internas.
Em um experimento com alface exposta ao ar de Tianjin, na China, as plantas acumularam entre 7 e 10 nanogramas de nanoplásticos de poliestireno por grama de peso seco da planta.
Em locais com alta contaminação por microplásticos no ar, as concentrações nos tecidos das plantas chegaram a ser até dez vezes maiores do que em locais mais limpos.
O estudo destacou os riscos ecológicos e de saúde da poluição plástica atmosférica, com microplásticos e nanoplásticos acumulando-se nas plantas e subindo na cadeia alimentar. No entanto, os pesquisadores alertaram que o impacto total ainda não é totalmente compreendido.
Os cientistas pediram mais investigações sobre a exposição dietética aos plásticos, a eficiência da absorção de microplásticos no intestino humano e o grau em que essas partículas podem atingir órgãos internos vitais.